Quando parte o último avô ou avó vai-se para sempre toda uma geração e fica um sentimento de vazio, de chão firme que se foi e não volta. Claro que ficam as memórias gravadas, acima de tudo no coração. Ficam as partilhas entre primos, irmãos, tios, as histórias que adoramos relembrar e repetir até para os mais novos saberem como eram os nossos avós e que no fundo isso faz de nós quem somos. Os bisnetos que já privaram menos e terão poucas memórias, ao ouvirem-nos compreendem de onde vimos e porque somos feitos desta matéria. As memórias dos avós, para quem tem a sorte de viver essa doçura (quando o é, claro), ficam-nos marcadas para sempre e fazem-nos recordar como eramos, de onde vimos, porque temos determinado comportamento. Ficam as saudades do bolo húmido de laranja, da torta de amêndoa e do cheirinho a café de “chicolateira” da casa da avó Prazeres e do arroz de feijão com panados, a barriga de freira, ou a melhor molotof com doce de ovos do mundo, da avó Bete! As brincadeiras no quintal da aldeia onde a família toda passava o verão, subir as laranjeiras e levar ralhetes porque fugíamos, os primos, para o tanque onde as senhoras lavavam a roupa, a refrescar-nos. E na outra avó, brincar ao rapa com feijões ou grão-de-bico por demolhar, fazer com paciência as roupas para as bonecas na máquina Singer, que lamento nunca ter aprendido a trabalhar.
Falta o miminho, o abraço e as palavras doces da voz meiga da avó Betinha e o aconchego da avó Prazeres no sofá com copos de leite, pão torrado com carradas de manteiga e com sorte uma gemada. Para não falar das melhores batatas fritas com ovos estrelados e salsichas do mundo e arredores. Ficam a faltar os ralhetes em amor, que nos deram educação e saber estar, e as gargalhadas das brincadeiras que nos permitiam fazer. Dizem que as avós são mães duas vezes, não acho que seja esse o papel. São avós, são mulheres que diferentes das mães têm outra calma, outro tempo, outra dedicação ou tinham naquela altura. Tempo que os pais não conseguem ter pelos afazeres do dia a dia e que os avós têm sempre para os netos. Pelo menos os meus tiveram e agradeço à vida por isso. Das melhores memórias da minha vida foram em suas casas com as respetivas famílias, tios e primos que sempre se juntavam ao fim-de-semana, natais, aniversários. É incrível que mesmo que aparecêssemos repentinamente, logo surgia comida e bebida com fartura. Parece que estavam sempre a contar com gente. Casas que adoravam receber os seus, cheias de Amor para dar.
Só lamento uma coisa, não ter feito mais perguntas sobre os seus passados, como viviam, como foram os seus pais e avôs e as suas vidas em pequenos. Quem ainda vai a tempo, perguntem e escrevam ou filmem as respostas. Aprende-se muito com os avôs, muito mesmo, a resiliência, a força, a garra, aprende-se o Amor da forma mais bela!
Obrigada pelo que me deram, os conselhos, os exemplos, pela família que me entregaram e por todos os momentos que teimam em reaparecer vezes sem conta. As casas fecharam-se, vocês partiram, mas sempre que vêm essas memórias ainda consigo ouvir-vos a voz, o tom com que dizem, e os cheiros dos momentos. Que a minha memória nunca me atraiçoe.
Obrigada, muito obrigada por entregarem o vosso melhor a mim, a todos. Nós também damos o nosso melhor aos nossos pequenos. Estarão vivos enquanto vos lembrarmos.
Até um dia destes, juntos outra vez. Amo-vos para sempre e sei que estão comigo!
Um comentário a “Adeus Avós!”
E Prrrum……