Hoje em dia é difícil perceber quem ou o que é autêntico. Mesmo em presença, sinto e vejo que muitas vezes as pessoas criam “capas” para a sua imagem, acham que têm de fingir algo que na verdade não são, mas que daquela forma vão agradar mais a sociedade em geral ou o seu grupo em particular.
É complicado perceber o que é original, orgânico, natural ou o que é criado, fabricado para parecer daquela maneira. Principalmente com as redes sociais, que todos consumimos e fazem parte do dia-a-dia. Quem é verdadeiro, autêntico, genuíno no que diz, no que mostra? Quem é que monta situações, modos de vida, até bens que depois na realidade nem são seus?
Sim, cada um tem a liberdade de ser como quer, com quem quer, a fazer o que quer. Mas até que ponto é que conseguimos nós discernir o que é verdadeiro ou não e nos deixamos de fato influenciar por essas pessoas e os seus comportamentos? É justo, moral ou benéfico a alguém, consumirmos dentro e fora dos ecrãs, uma mentira pegada? Muitas pessoas e não são só os mais jovens, acreditam em tudo o que vêm e ouvem e depois querem replicar. Principalmente quando é vendida uma imagem de felicidade nessa suposta vida maravilhosa, cheia de glamour e facilidades (criadas ou inventadas para o efeito).
Percebo que anúncios, telenovelas, filmes, séries, livros, sejam fruto de imaginação, ou exacerbados de muitas maneiras porque gostamos de sonhar, de sair um pouco do quotidiano e viajar até nesses pensamentos. Mas alterar o real, o que sentimos, o que somos, o que temos?….
Felizmente já se vai falando um pouco sobre isto e tentando alertar para esta questão. Ainda assim, será que conseguimos saber distinguir o que é real, do que é montagem só para “fazer bonito”?
Quantos de nós vivemos a tentar alcançar o que vemos os outros a serem ou terem e achamos que também seremos felizes ou pior que só seremos felizes, quando formos daquela forma ou a ter aquelas coisas? O estilo de vida “vendido” em vídeos espetaculares e cheios de glamour ou fotos incríveis cheias de alegria e satisfação. É isso que a grande maioria quer copiar.
Quando me apercebi, também eu estava a achar que só seria feliz como as pessoas que via e comecei a desejar o mesmo que elas. Imbuída nesse espírito do ter ou ser como os outros. Contudo depois de refletir, questionei, até porque comecei a sentir-me descentrada, não era eu. Entendi que já sou feliz. Sou muito feliz com quem sou, quem tenho na minha vida e o que tenho. Entendo acima de tudo que o Ser é bem mais importante que o Ter. Realmente eu sempre o soube e a maior parte de nós sabemos. Mas por vezes deixamo-nos ir “na onda”, atrás das massas. Percebi que é preciso, principalmente no online, entender o que é real ou fabricado e só nos deixarmos influenciar pelo que ressoa connosco. Eu e todos, somos diferentes uns dos outros, portanto como é que podemos ter todos o mesmo estilo de vida, querer as mesmas coisas, sermos no fundo cópias. Não seríamos então quase que como robots? Todos a vestir igual, a viver de forma igual, ir aos mesmos sítios, com os mesmos valores.
Viver a achar que só vamos ser felizes quando tivermos alguém ou algo é viver no vazio, na angústia e corremos o risco de nos tornarmos ansiosos e sermos até eternos insatisfeitos e infelizes.
Perceber que no palco dos outros tudo parece perfeito e lindinho, mas nos bastidores (que raramente nos mostram) é que a vida é real. Aí é que mora o autêntico, o genuíno e, a meu ver, é quando somos bem mais bonitos. Mesmo com as imperfeições e diferentes feitios.
A beleza está na individualidade de cada ser. Por isso é importante procurar, o que para nós faz sentido. E se não for o mesmo que A, B ou C, está tudo bem. Cada um deve fazer o seu caminho, passar pelos seus processos em verdade. Só assim se pode ser feliz.
Com isto não quer dizer que não queiramos ser mais como alguém que admiramos e que nos identificamos. Ou até desejarmos ter coisas, alcançar mais na vida, chegar a determinados patamares, no fundo ter uma vida melhor. Ter objetivos para alcançar é positivo, dá-nos foco, guia-nos com garra para chegar onde queremos. Mas é importante que nesse processo estejamos conscientes do que realmente é bom para nós e o que nós podemos entregar de melhor à vida e aos outros, aproveitando e sentido cada momento. No aqui e no agora. E já somos tantas vezes felizes nesse caminho, só não conseguimos ver se não estivermos conscientes e atentos. A felicidade sentida ao viver de acordo com a nossa verdade, aos sermos leais connosco e por consequência com o outro, é incomparável.
Bem sei que socialmente, temos de ser educados e não gerar conflitos e brigas. Na nossa família, com os amigos, no trabalho… Mas viver em harmonia e autenticidade, não significa termos de mascarar constantemente quem somos e como somos. Não pensar da mesma forma e nem viver da mesma forma, não é atacar o outro. Querer coisas diferentes ou desejar algo diferente não é desrespeitoso para ninguém. Não é sobre impor quem somos, mas ser em verdade.
A pessoa que age com verdade expressa os seus sentimentos e opiniões sem temer retaliação. Não possui segundas intenções e, quando quer alguma coisa, expressa a sua vontade para que não haja desentendimentos futuros. A pessoa autêntica é livre de segredos. Deixa a sua personalidade clara como cristal e não se envergonha de cometer erros ou de ter defeitos. Sendo assim, é valorizada pelos demais! Essa transparência é reconfortante porque representa um estado de paz interior que muitos gostariam de vivenciar.