Participar num Retiro

Desde 2022 que me iniciei a participar em retiros e este agora em abril de 2024 foi o meu terceiro. Posso desde já adiantar que todos a que fui, foram mágicos de forma diferente, até porque em todos eu estava diferente.

Isto significa que no momento em que fui a estes retiros, apesar de eu ser a mesma pessoa sempre, ao mesmo tempo sou, fui e serei diferente ao longo da vida, porque estava e estarei em momentos únicos e situações completamente diferentes. Aliás, essa mudança é natural em qualquer pessoa, a vida vai mudando, nós vamos mudando por isso estamos ano após ano naturalmente em momentos de vida diferentes. Todos os retiros só tiveram uma questão comum, foram todos liderados pela mesma pessoa, por uma mulher sábia e incrível, que nos guiou e sustentou. Dois deles foram até no mesmo local, mas em alturas diferentes (abril e julho) em que até o aspeto do local, por ser numa envolvente de natureza, estava completamente alterado. Da primeira vez que fui a Dornes estava muito calor, fim de julho, o rio estava seco junto à casa e como tal tínhamos de caminhar um pedaço para lá chegar e podermos tomar banhos maravilhosos. As árvores e toda a envolvente estavam duma forma própria de verão, os dias e noites muito quentes, fizemos praticas no exterior, caminhadas pela serra.

Desta última vez que fui agora em abril, tudo estava diferente, contudo maravilhoso e belo na mesma. A natureza é mágica realmente. Pelas chuvas que teimam em nos acompanhar este ano o rio estava cheio, a passar bem pertinho à casa, a relva molhada, toda a envolvência está em primavera, as flores e árvores a ganharem uma roupagem linda, mas tudo ainda muito húmido e fresco. Pela questão da chuva e frio não houve banhos no rio, as práticas foram todas no interior, as comidas mais quentinhas.

Além dos locais serem ou estarem diferentes, aquilo que percebi é que em cada retiro realmente eu estou diferente, o momento de vida é diferente, as alegrias e as preocupações são outras e por isso o que sinto que preciso trabalhar em mim, ou as crenças de que me quero libertar vão alterando ao longo do tempo. Claro que pode existir e acontece de ainda ter em mim algo que já tinha das outras vezes e que preciso trabalhar, há assuntos ou questões que nos acompanham muitos anos ou até toda a vida.

E além de tudo isto existe outro fator diferencial de uns para os outros retiros, é que fiz sempre com pessoas diferentes o que imediatamente muda a energia de grupo, a energia dos trabalhos e a pessoa que está a sustentar o retiro também se adapta a isto tudo e portanto vai ajustando ou modificando as práticas, conforme necessitamos.

Não existem palavras suficientes para descrever o bem que estes retiros me fazem. Apesar de abanarem o meu centro, me fazerem olhar para dentro, ir à dor, refletir, mas acima de tudo sentir e sair do conforto a que nos vamos deixando cair no dia a dia, são dos melhores momentos que tenho tido. Permitir-me ser eu sem medo do julgamento dos outros, permitir ser verdadeira comigo mesma, deixar e soltar amarras do passado que já não me pertence e só fica o importante da aprendizagem e do crescimento interno. Largo tudo o resto, o que já não faz sentido em mim, que já não me acrescenta nada, para então dar espaço ao novo, para cocriar os meus sonhos. Ganho força interna, como uma Phoenix que renasce das cinzas com mais força, garra e foco. São dias muito intensos, muito fortes, com todas as emoções a virem ao de cima, sendo que é preciso estar preparado, querer e permitir que tal aconteça. Mas só desta forma podemos evoluir, ficar mais leves e viver com mais intensidade esta vida tão curta.

Conheci mais uma vez mulheres extraordinárias que tanto me acrescentaram, que me ajudaram, guiaram, deram colo e sabedoria. Revi-me em cada uma delas em diferentes momentos ou palavras. Trago um pouco de cada comigo e sinto-nos irmãs, mulheres de uma tribo só com o mesmo propósito do coletivo, embora cada uma com a sua função, com a sua capacidade diferenciada e ainda assim somos tão iguais. Obrigada a estas mulheres que me deram força, alento, abriram horizontes, me ensinaram coisas novas sobre mim e sobre o mundo, culinária e formas de estar na vida, há tempo para aprender de tudo nestes espaços, basta querermos. O sentimento de pertença e aceitação foi forte e é algo que há muito tempo não sentia e por isso estou muito grata.

Ressoamos umas nas outras, fomos espelho e contraste, tudo o necessário para renascermos. Juntas realmente somos mais forte e quero acreditar que as mulheres se estão a voltar a ajudar, respeitar, empoderar umas às outras. É necessário que assim seja, só assim faz sentido.

Nunca conseguirei transmitir e quanto estrondoso e marcante foi para mim. Ainda estou a processar tudo, é preciso um tempo para integrar. Sei que permiti cuidar mais um pouco de mim e é tão importante, porque se eu não estiver bem, nada à minha volta seja família, trabalho, pode estar bem.

Até ao próximo retiro, seja ele quando for, com quem for e onde for.

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