No texto da semana passada falei dos cuidados que pais atípicos, os típicos também claro, aliás qualquer pessoa a bem da verdade, deve ter. É um tema que acho mesmo que vale a pena ser relembrado porque na correria da exigência dos dias de hoje, esquecemo-nos de abrandar, sentir, escutar o que o nosso corpo e mente nos estão a dizer ou a pedir. Aliás muitas vezes, só percebemos quando ficamos doentes, exaustos, no fundo vamos ao limite das nossas forças. E ninguém deve ir ao seu limite, porque não somos máquinas que de repente se podem trocar peças e está tudo bem. Muitas vezes já nem as máquinas têm reparação, por isso para quê andar até rebentar com as nossas capacidades e depois cair no vazio, ou na angústia, ou outro sentimento qualquer desesperante? Muito poderia dizer ainda sobre isto e se calhar voltarei ao tema mais vezes porque esquecemos de cuidar de nós com relativa facilidade. Comigo também acontece, embora esteja mais sensível e alerta para o tema e já me policie mais, então não deixo descurar ou tento não deixar.
Como eu tinha dito, desta vez vou falar um pouco do meu processo de autocuidado e se calhar não chegará este texto para tudo, porque cuidarmo-nos tem de ser a vários níveis: físico, psicológico, espiritual, social, etc.
O que senti no meu caso foi que a determinado momento da minha vida eu era “só” mãe, dona de casa, trabalhadora, cuidadora de todos, menos de mim. E como poderei eu sequer cumprir bem algum desses papéis se realmente não estiver bem, equilibrada e centrada? Fui reparando, e ainda hoje em dia passo por essas fases, em que começo a perceber que estou sem paciência, a ficar irritada, com o rastilho muito curto como costumo dizer, o que significa que estou descentrada, desorganizada a vários níveis e está a começar a refletir-se em mim e nas minhas atitudes. Aliás toda a gente se deve cuidar e isso é do senso comum acho, contudo apesar de na teoria o sabermos, na exigência em que nos colocamos nos dias de hoje, não o praticamos.
Achamos que estar ao telemóvel à noite 1h a fazer scroll é reparador do stress, angustia ou outra coisa qualquer que nos possa estar a atormentar ou fazer menos bem. Está comprovado que claro que é um “prazer” momentâneo, mas que pode até induzir a mais stress porque nas redes sociais começamos a ver vidas maravilhosas, corpos fantásticos e entra a comparação e então lá vem o desanimo e frustração de não termos aquela vida aparentemente fantástica e que passamos a querer para nós.
Eu também gosto de ver redes socias e tenho as minhas, mas cada vez mais me protejo, tendo o cuidado de quem sigo, perceber se são imagens ou vídeos verdadeiros e tentar filtrar o importante. Policio muito mais o tempo que gasto nisso e a determinadas horas não o faço. Não é sequer a última coisa que faço à noite. Essa foi uma das decisões que tomei.
Desta forma percebi que tinha de voltar a encontrar formas de libertar stress, de resgatar momentos só meus, com amigas, de fazer coisas que me dão prazer sem pensar nos outros e só em mim. Isto não é ser egoísta, é ser inteligente, é cuidar-me.
De há 3/4 anos para cá tenho tentado (numas fases corre melhor do que noutras, é a vida acontecer) cumprir algumas destas coisas. No meu caso e se servir de exemplo para alguém já fico feliz hehe, comecei este processo de autocuidado na altura do primeiro confinamento, pois eu já percebia que precisava de voltar a tratar de mim, de ter momentos só meus e quis que envolvesse algo novo, tranquilo, bom para o corpo e para a alma. Escolhi o Yoga e depois de muito pesquisar sobre o tema, que era o que queria experimentar e achei logo que faria sentido para mim, apareceu-me nas redes sociais umas aulas online. Posso dizer que foram a minha tábua de salvação na altura, numa fase muito dura com filho pequeno em casa para cuidar, ter de trabalhar online com reuniões e chamadas para clientes todo o dia, o meu marido ao lado na mesma mesa a fazer o mesmo e um familiar a viver connosco para ter apoio numa fase difícil de doença. Só eu é que saía para fazer compras e tentar não trazer o “bicho” para casa, eu é que cozinhava a maior parte das refeições, tratava de roupas, e cuidava dessa pessoa. Sinto que se não fossem essas aulas, conhecer a professora e as outras aluas e dar dois dedos de treta com elas, teria dado em louca. Essas aulas terminaram há um ano e pouco pois a professora deixou de dar as aulas online e aqui perto não tenho onde fazer.
Com a mesma pessoa (que é só maravilhosa, se quiserem contacto dou) fiz também na altura consultas de psicoterapia com abordagem integrativa, que foram um balsamo para a minha alma e a minha mente. Com ela também fiz trabalhos e faço até hoje do feminino e um curso de meditação mindfulness que foi só maravilhoso. Muni-me de ferramentas que ainda hoje uso (tenho de usar mais até). Este processo de anos que levo com a Joana mentora, professora e psicóloga que falei até agora), tem-me feito descobrir quem sou, para onde quero ir e que feridas tenho de trabalhar para me curar e não passar à próxima geração.
Depois de terminar as aulas de Yoga, percebendo que queria continuar a mover o corpo, tonifica-lo, perder uns kg se desse (a pandemia foi terrível para quase todos, não é?), mas acima de tudo estar ágil para brincar com o meu filho e para o meu futuro, passei a fazer ginástica em casa com PT online. Foi através duma querida amiga que conheci esta PT, com quem treinei para aí 2 anos e, entretanto, comecei a fazê-lo sozinha. Mas não por muito tempo, pois uma prima já se juntou a mim e com companhia é bem melhor até porque o compromisso de fazermos juntas nos obriga a não falhar e nos dias em que não apetece nada, esse compromisso arrasta-nos. Custou muuuuito ao início habituar pois levanto às 6:40h para treinar às 7h, mas depois de uns meses já faz parte da rotina e mesmo de férias costumo fazer, nem que seja noutro horário. Apesar de me custar compensa sem dúvida o bem que faz ao corpo mexer, à mente a libertar, porque está focada no exercício. Faz-me bem até ao espírito que fica leve. Escolhi este horário porque a casa está em silêncio e assim é o meu momento e também porque não atrapalha os afazeres do dia. Faço também um dia às 18h, o que às vezes custa mais porque já estou cansadita das tarefas e trabalho, mas sabe muito bem na mesma e até durmo melhor.
Noutra vertente, comprometi-me a tentar fazer pelo menos um retiro por ano e vou para o 3.º ano consecutivo, daqui a uns dias lá estarei. Têm sido só círculos de mulheres muito bonitos, onde libertamos ou trabalhamos cada uma individualmente o que precisa, embora numa energia de cura do grupo. Praticamos silêncio de manhã, temos alimentação cuidada por mãos mágicas (e estar 3 ou 4 dias sem pensar em cozinhar é só top, sabem bem do que falo), fazemos yoga, passeios na natureza, banhos de rio, partilhamos sem medos nem vergonhas de julgamento alheio no meio de práticas muito bonitas. Cuidar de nós guerreiras, dar-nos força, alento, amor, amparo, ouvir, partilhar, emanar boas vibrações. Só posso dizer que são dias mágicos, venho de alguma forma renovada mesmo que percebendo que tenho coisas internas a trabalhar. A vida é mesmo um processo.
Passei a fazer Reiki recentemente e tento fazer uma vez por mês (se calhar até vou eu mesma estudar para ser Reikiana, estou a ponderar), às vezes faço massagem também. Na hora de almoço tento caminhar se o tempo permitir, vou com o meu marido dar uma volta de 40/45 minutos e aproveitamos para pôr a conversa em dia já que o pequeno está na escola.
Deixamos de ver tv à noite, normalmente vemos ao fim-de-semana e às vezes nem isso. Se nos apetecer vemos a meio da semana algo que nos interesse muito. Mas normalmente lemos para adormecer, rendemo-nos ao Kindle embora adoremos o toque do livro, o cheiro e o folhear. Mas é efetivamente mais pratico quando vou a algum lado como consultas ou exames e sei que posso ter um tempo de espera, por isso, aparelho-me em terra.
Faço também escrita terapêutica, ou seja, pego num caderno e escrevo o que sinto naquele momento ou no que estou a pensar, sem filtro, coloco tudo no papel. Muitos desses textos não dão em nada, é só mesmo um despejar ou como um diário que ajuda a exteriorizar sensações, pensamentos, crenças, o que for. Às vezes desses textos algum vem cá parar ao Blog, a ideia até começou assim aconselhada por uma das minhas orientadoras de vida. Um dia disse-me para colocar tudo em papel e numa outra altura sugeriu que eu partilhasse com o mundo, pois poderia haver alguém que se identificasse e não se sentisse só. Às vezes só precisamos de saber que alguém passa pelo mesmo que nós para nos sentirmos acolhidos ou minimamente compreendidos. E eu sei que não é uma nem duas pessoas, muitos sentimos ou pensamos o mesmo, ou até passamos pelas mesmas situações, mas por não ouvirmos ninguém à nossa volta a falar sobre isso, achamos que só acontece a nós e tendemos a reprimir. Eu decidi aceitar o conselho destas queridas e escrever. O que acho conveniente e pertinente, partilho e assim nasceu o Blog. É realmente o Sopro da Minha Alma, sem filtros e sem medos, só me falta coragem de dar a cara em vídeos no Instagram e Facebook, pois acho que poderá chegar a mais gente e ajudar quem se identifique, a ver vamos se o farei. Step by step.
Estas são então as ferramentas a que recorro para me conectar comigo e com o meu corpo e mente. Podem ir mudando até porque gosto de às vezes mudar, fazer algo novo ou porque simplesmente sinto que se fechou um ciclo e outro irá abrir. Mas tratar de mim e ter os meus momentos é crucial!
Não se esqueçam de vocês, descubram-se e tenham prazer em cuidar-se.
“Dá a ti mesma a atenção que dás aos outros e vê-te a florescer.“ Autor Desconhecido
