Quando estamos num relacionamento, na fase inicial, talvez os primeiros meses ou até anos, faz-se de tudo para namorar. Namorar muito, sempre, a cada momento possível. No início começa-se a flertar (ainda se faz disso?!), dá-se tudo, entrega-se tudo ao nível do romantismo, surpresas, momentos a dois. Vai-se jantar fora a sítios lindos (pelo menos aos nossos olhos porque estamos com quem mais queremos), passeia-se à beira mar, faz-se um fim-de-semana a dois na natureza ou a desbravar uma nova cidade. Tudo super excitante! Cada um põe ou entrega o melhor de si. A sua melhor piada, gentileza e sentido de humor. No campo estético a melhor roupa, o perfume, maquilhagem, o melhor sorriso. Ouve-se tudo do parceiro com muita atenção e dá-se valor a cada momento partilhado, com a certeza de que será assim para sempre. Esta bolha de paixão, entrega e amor que se está a viver jamais acabará, pensa-se. Muitas conversas, planos e promessas.
Eis que, entretanto, no andar da carruagem chamada vida, entra a rotina. Sim ela chega sempre a determinada altura, mesmo ainda na fase do namoro e podendo ainda o casal viver em casa separadas. Chega obviamente também aos casais que já vivem juntos, casados ou não, com ou sem filhos. Sabendo que quem tem filhos essas rotinas apresentam-se ainda mais impostas e obrigatórias. Já não se consegue ou pode ser tão espontâneo, mesmo que se queira. Existem horários e tarefas a serem cumpridas.
Contudo em qualquer altura destes possíveis cenários, entra a rotina. Faz parte e o perigo mora aí. É quando tudo ou muito muda. Começa-se a relaxar da própria aparência, do cuidar de si mesmo e ainda mais do outro e até da relação em si.
Já ninguém se arranja tanto e muitas vezes nem se apercebe disso, porque é gradual. Deixa de se olhar de forma romântica e apaixonada e nem se vê bem a pessoa com quem se está. O romancismo foi, a entrega já não é a mesma, algumas conversas vão caindo por terra, já não interessam tanto ou de todo. As saídas a dois já quase nem existem ou foram realmente esquecidas. Já não se recordam dos planos a dois, das viagens prometidas. Até da promessa de que nunca se tornariam um casal destes, se lembram! Um casal que mal comunica, ou que já o faz com aspereza e que passam a ser como que dois amigos juntos. Quando se dá conta, já se é esse casal, os dois marretas.
Com isso não quer dizer que o Amor se tenha extinguido totalmente. Pode só significar que deixaram a vida, o trabalho, as obrigações, as preocupações, a família (núcleo e alargada), a rotina, interferir aos pouco até chegar a este ponto. Aí é tempo de parar e refletir! Como em tudo há exceções, que vão gerindo de alguma forma tudo isto melhor e vão mantendo a chama da relação acesa e as conversas, os diálogos em dia e por isso não dão espaço para chegarem a este ponto de afastamento, de distância (física e emocional).
Mas sim, muitos casais, se não a maioria, depara-se com este cenário, chegam a esta fase do relacionamento e aí é realmente importante refletir, sentir e perceber se ainda se ama a pessoa com quem se está. Se a resposta for sim, então se calhar é tempo de fazer tudo para resgatar o que já se teve ou algo até diferente, novo. As pessoas mudam ao longo da vida e então devem encontrar na sua nova versão o que os faz de novo felizes, unidos, em harmonia, paixão e amor.
Claro que a rotina fará sempre parte da relação e é boa até certo ponto. Dá estabilidade, segurança, é até reguladora para a maioria das pessoas. Contudo é tempo de perceber o que se deve fazer para resgatar a intimidade, a união e a partilha. Nada mais maravilhoso para quem está numa relação, não descurando nunca a parte individual de cada um, do que a partilha. Se não para que estão as pessoas juntas?! Partilhar alegrias, tristeza, preocupações, projetos de vida, desejos, angustias e medos, tudo. Até porque se não, deixamos de conhecer quem está ao nosso lado e vice-versa. Por isso é tempo de devolver à relação o romance, saídas a dois, passeios de mãos dadas, arranjarem-se para elevar a sua autoestima e quiçá despertar interesse e paixão no outro. Afinal a sensualidade usada tantas vezes lá no início do relacionamento, fez parte do charme para conquistar o outro. Voltarem-se a fazer surpresas, dar beijos longos sem contar, abraçar por trás quando o outro está a cozinhar e elogiar pelas coisas pelos gestos, pelas habilidades que essa pessoa tem. Deixa-se tão rapidamente de elogiar e ver as qualidades das pessoas. É tão mais fácil criticar negativamente, apontar os defeitos e muitas vezes só para mascarar os próprios ou arranjar desculpa para o que não se está a fazer bem.
Cada casal tem de ver como poderá fazer dentro das suas possibilidades e limites, mas há sempre forma de o fazer, basta querer e abrir o coração. Um passeio só para pôr a conversa em dia e respirar ar puro, estando no aqui e agora, em presença total. Percebendo assim o que o outro anda a sentir, a pensar, se realmente se estiver com escuta ativa e sem julgamento. Um piquenique num sítio que já nem se visita há tanto tempo, uma ida ao cinema ou fazer cinema em casa. Um jantar romântico mesmo no próprio lar, à luz das velas, resgatando aquelas músicas que os dois adoram e um bom copo de vinho…
Se cada um pensar, sabe bem o que fazer para ajudar a reacender a cumplicidade e ligação de outrora.
No nosso caso em particular e a título de exemplo, tentamos namorar sempre que possível. Claro que com um filho e as exigências que isso traz não acontece sempre que desejamos porque ficou doente de repente ou surgiu um outro imprevisto da vida. Mas tentamos encontrar sempre um momento para estarmos só os dois num jantar, passeio ou tirar um dia em que esteja na escola e nós possamos ir passear e almoçar a dois. Sentimos que é muito importante olhar nos olhos em presença, sem ser interrompidos, conversar sobre temas que só nós podemos e realmente escutarmo-nos.
Este ano de 2024 em particular decidimos e está na agenda dos dois para não falhar de forma alguma, jantarmos fora só nós dois, um sábado por mês. O nosso filhote fica com avós, tios, primas, o que também é maravilhoso para ele criar mais laços e saber estar sem os pais noutros ambientes. E nós vamos namorar! Eu ou o meu marido marcamos o restaurante e fazemos surpresa ao outro. Tentamos que seja num sítio bonito para passear se possível. E é muito bom sentirmos este momento para nós. Arranjarmo-nos um pouco mais, o entusiasmo da saída, onde iremos, a experiência gastronómica sem pressas, é um ritual bonito nesse dia em que estamos somente a cuidar de nós como seres individuais enquanto nos preparamos e como casal em tudo o resto. Tentamos também marcar um ou outro concerto ou peça de teatro para ir variando e vermos o que nos faz felizes.
Estas saídas estavam a ficar cada vez mais espaçadas e por isso marcamos na agenda para não deixar passar. Deixamo-nos consumir pela vida, tarefas e outros compromissos e vamos adiando aquilo que no fundo é o mais importante.
Algo que sempre falamos é que os filhos um dia vão à vida deles como nós fizemos, mas o casal está sempre lá e fica. Ou, se queremos que fique, temos realmente que tratar sempre desta base, de estar sólida, forte e harmoniosa. Se não quando os filhos saem de casa (e se não for antes) muitos casais sentem-se dois estranhos um para o outro e já nem sabem fazer coisas juntas, ou já têm gostos muito dispares e ficam á toa um com o outro. Mortinhos que venham netos colmatar algum vazio ou propósito de vida.
Com este compromisso que agora temos, até nos sentimos um pouco no início do namoro, à espera da nossa saída. Não esquecendo nunca de diariamente beijar, abraçar, perguntar se está tudo bem no trabalho..
Quem Ama, cuida! Namorar, sempre!